quinta-feira, 30 de junho de 2011

Solidariedade a quem sofre por causa do seu nome

Lane Valiengo

Quem sofre por causa de um nome estranho, absurdo ou exótico merece toda a nossa solidariedade, nosso respeito e nossa compreensão.

Alguém que passou a vida inteira sendo chamada de Enerdina mereceria receber um pedido formal de desculpas da sociedade. E ser homenageado com a mudança imediata do seu nome, seja qual for a sua idade.

Reservamos porém a mais séria das indignações contra quem escolhe estes nomes ou os oficiais de registro civil que permitem que um nome infame seja dado a uma criança.

Existem os nomes obviamente absurdos, escatológicos ou abertamente pornográficos. Há nomes que não passam de brincadeiras estúpidas, gozações, pilhérias. E ainda surgem milhares de nomes que desafiam o bom gosto, que são feios mesmo, sem sentido e sem lógica alguma.

Todas estas categorias deveriam ser tratadas de uma forma mais sensata pelas autoridades brasileiras. Em Portugal, por exemplo, os Cartórios não permitem que alguém registre um nome que não esteja incluído em uma lista específica, que contem nomes normais. Se for o caso, um nome que não provoque constrangimento, que não seja feio, mas que não esteja incluído, poderá posteriormente fazer parte da lista.

O Governo Federal brasileiro, numa situação adequada, teria a obrigação de desenvolver uma campanha de esclarecimento, para que pais e mães sem consciência evitem dar nomes vergonhosos a seus filhos. Em muitos casos, colocar um nome idiota é um caso de agressão moral praticado contra os recém nascidos. O Estatuto da Criança e do Adolescente deveria fornecer proteção contra os nomes que provocam sofrimento.

Luzival, por exemplo, é um nome que provoca estranhamento. Trata-se de um caso clássico da mistura dos nomes dos pais, Luiz e Valdemira, prática totalmente condenável pois geralmente resulta em nomes esdrúxulos. A criança mal nasceu é já vítima de brincadeiras, de ignorância ou de desrespeito explícito, para não falar de discriminação. E ninguém deve ter esse tipo de direito, de poder, de abuso.

Na verdade, trata-se de um caso de direitos humanos: todos têm o direito de receber um nome que não lhe cause sofrimento ou constrangimento. A crueldade gratuita deve ser repudiada sempre.

As colunas de falecimentos dos jornais estão repletas de nomes feios ou vergonhosos. Dá para imaginar o grau de sofrimento de seus portadores, que merecem toda a nossa compreensão. Mas isso não é suficiente.
       
É preciso difundir permanentemente a informação de que a legislação permite a troca do nome próprio. E incluir na legislação proibições enfáticas a respeito dos nomes esquisitos ou infames.

Só resta repetir: nossa total solidariedade a quem sofre em razão da inconsequência de quem gosta de brincar com o destino dos seus próprios filhos e da incompetência de quem permite que estes nomes sejam registrados.

Veja, na sequência de reflexões sobre os nomes estranhos, até aonde pode chegar essa inconseqüência.

Maior prenome do mundo é mexicano

Lane Valiengo

         Aquele que é considerado o maior prenome do mundo pertence a um mexicano, que precisou solicitar autorização especial para que as 36 letras figurassem na sua carteira de identidade e na carteira de motorista: Bhradaranyakopanishadvivekachudamani. Como sobrenomes, Erreh e Muñoz.
         Como não poderia deixar de ser, ele é chamado só de “Bhrada”, um veterinário que vive no estado de Coahuila,  no Norte do México.
         Não satisfeito, ele pôs o mesmo nome em seu filho. Trata-se na realidade da junção do nome de dois filósofos hindus. Bhrada significa “o homem que se converte no que faz”. O restante, explica seu proprietário, não tem um significa preciso.
         O México é pródigo em nomes estranhos e existem mesmo alguns “Hitler” e “Michael Jackson”. Uma senhora nascida em 1914 foi registrada com trinta sobrenomes, a saber: Maria de la Assunción Luisa Gonzaga Guadalpe Refugio Luz Loreto Salud Altagracia Cármen Matilde Josefa Ignacia Francisco Solano Vicenta Ferrer Antonia Ramona Agustina Carlota Inocencia Federica Grabriela de Dolores de los Sagrados Corazones de Jesús y de Maria Saldivar y Saldivar.
         No México, para que a pessoa possa mudar o nome, ela precisa provar que sofre algum problema de discriminação.
         No Brasil o Artigo 56 da Lei nº 6.015/73 garante aos jovens a mudança do nome no ano em que completam dezoito anos.

O nome mais longo do mundo

Lane Valiengo

                   Um escocês de 36 anos tem o nome mais longo do mundo, que inclui 29 palavras e 197 letras. Como a lei britânica não proíbe a mudança do nome próprio, ele resolveu juntar todos os seus nomes prediletos num conjunto só. Seu pai só exigiu que ele mantivesse o sobrenome da família, Usansky.

               Confira o nome dele: Barnaby Marmaduke Aloysius Benjy Cobweb Dartagnan Egbert Felix Gaspar Humbert Ignatius Jayden Kasper Leroy Maximilian Neddy Obiajulu Pepin Quillian Rosencratz Sexton Teddy Upwood Vivatma Wayland Xylon Yardley Zachary Usansky. Seus amigos, porém, preferem chamá-lo de Nick, simplesmente.

                   Nick conta que usou o dinheiro da herança deixada pelo pai para pagar pela mudança do nome.
        
                 No Brasil, a legislação permite que qualquer adolescente, no ano em que completar 18 anos, possa mudar o seu nome. A garantia desse direito está expressa no Artigo 56 da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973.

O lugar com o nome mais comprido do mundo

Lane Valiengo

            O local com o maior nome do mundo fica no País de Gales, mais precisamente na Ilha Anglesey e é o seguinte: Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobbwllllantysilioggogoch, mais conhecido como Llanfair PG.

             São 58 letras (51 no alfabeto galês, em que ll e ch contam como letras únicas) e o nome é reconhecido pela Coroa Britânica. Trata-se na verdade da reunião de diversas palavras galesas e que significam mais ou menos o seguinte: “A igreja de Santa Maria localizada perto da grutas da aveleira branca perto do riacho e da igreja Santo Tysilio junto à gruta vermelha”.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cartorários precisam auxiliar a população na questão da mudança dos nomes dos adolescentes

Lane Valiengo

      Conscientizar os jovens sobre o direito de mudar o nome é uma questão de cidadania, de solidariedade coletiva e, principalmente, um ato de afirmação política da individualidade. Por tudo isso, os Cartorários têm a obrigação moral de informar a todos os adolescentes que eles têm a garantia legal de mudar o nome no ano em que completam 18 anos.

        As determinações do Artigo 56 da Lei nº 6.015/1973 vão muito além de uma conquista legal ou de um dispositivo jurídico. Acima de tudo, representam um valioso instrumento de construção da personalidade e um verdadeiro alicerce da construção do tecido social sadio.

      O nome é o elemento que define uma pessoa, é o seu primeiro bem, a sua propriedade fundamental. Por isso, o direito a um nome adequado deveria ser uma questão de direitos humanos. Pois a construção da personalidade começa exatamente com a correta identificação com o nome que nos é atribuído. Quando esta atribuição é distorcida e resulta em um nome inadequado ou absurdo – ou simplesmente um nome feio -, isso resulta no desvirtuamento da construção da personalidade e numa violência moral que, em muitos casos, transforma a vida da pessoa em um autêntico inferno, em que a decepção, o assédio, o medo, a vergonha e a depressão podem causar traumas profundos. A pessoa tem dificuldade para crescer e evolui, torna-se arredia e quem perde com esse processo, além da própria pessoa, é a coletividade.

A sociedade deixa de receber a colaboração integral da pessoa que carrega um nome feio, sua contribuição é limitada e por vezes inexistente. O isolamento acontece e destrói aos poucos a personalidade, que pode até tornar-se doentia. A democracia não avança na medida em que seria desejável (ou aconselhável) e certa parcela das relações sociais deixa de existir.
               
        Eis porque a escolha de um nome é um ato de suprema responsabilidade. Quem foge dessa responsabilidade age contra a sociedade e revela sua falta de amor e respeito ao próximo. Ao invés de ajudar a criança a crescer, ajuda a rebaixá-la.

        A responsabilidade - que nesse caso é uma obrigação moral, um compromisso social dos mais sérios - precisa ser dividido igualmente com os Cartórios de Registro. São esses organismos que deveriam informar a cada jovem ali registrado, quando eles completarem dezoito anos, que a lei garante a mudança do nome.

      O Instituto do Nome, por todas estas razões,  defende que esse compromisso moral seja transformado em lei, de âmbito federal, para que os Cartórios sejam obrigados a cumprir a sua responsabilidade e prestem a sua parcela de colaboração com a coletividade.

          Defender o patrimônio que cada nome próprio representa é uma ação política transformadora, pois envolve o desenvolvimento das individualidades e a solidificação da coletividade. Por isso, os políticos detentores de cargos eletivos devem demonstrar seu comprometimento com os direitos individuais e coletivos, lutando por uma legislação que torne a informação sobre a possibilidade de mudança do nome uma questão obrigatória e compulsória.

           Esta é a própria razão da existência do Instituto do Nome, sua declaração de princípios e sua missão primordial.

Nomes da repressão devem ser mudados?

Lane Valiengo

                  Torturadores podem ser nomes de ruas? E golpistas?
                  
                  Ditadores podem ser homenageados nomeando um conjunto habitacional? E um bairro, uma cidade?
                  
                  Seria como conviver com o inimigo?
                           
                  Eis uma questão interessante: os nomes daqueles que praticaram abusos contra a humanidade podem figurar em placas que indicam locais públicos?
        
                  A Prefeita de Cubatão, Márcia Rosa (PT) acha que não. E vai mais longe: quer perguntar à população se os nomes de representantes do golpe de 64 devem ser mudados.
                  
                  Cubatão perde sua autonomia política em 1968, por imposição da ditadura militar. Considerada como “área de segurança nacional”, ficou 17 anos sem ter o direito de escolher seu prefeito. Durante esse período, os interventores nomeados pelos militares golpistas aproveitaram para deixar a herança pesada de nomes antidemocráticos.

                  Dessa forma, existe um bairro chamado 31 de Março (data do golpe militar), outro Jardim Costa e Silva e, ainda, um Centro Esportivo Castelo Branco. A Prefeita Márcia Rosa iniciou, agora, um processo de consulta popular, para saber se as pessoas realmente querem mudar o nome de todos os próprios públicos que fazem referência ao golpe de 64. Não se trata de apagar o passado, ela declara, comentando que não considera justo que torturadores e homicidas sejam homenageados. Aqueles que foram contra a democracia, alega a prefeita, não podem ter o nome dado a uma rua ou qualquer outro local público.

                  Presidente Médici é o nome de uma cidade em Rondônia. Há um elevado Costa e Silva e uma rodovia Castelo Branco em São Paulo. Em Santos, há um Conjunto Habitacional Dale Coutinho. O colunista Vladimir Safatle, do jornal Folha de São Paulo, cita a rua Hennning Boilesen, empresário que financiou a repressão e, em troca, gostava de assistir às sessões de tortura. Lembra ainda que, em São Carlos, os cidadãos conseguiram mudar o nome da então rua Sérgio Fleury, um dos grandes especialistas em tortura da História recente.
                  
                  Será que não é homenagem demais para gente que tanto mal fez à democracia?

Um homem sem freios procura o próprio nome

Lane Valiengo

              Que ninguém duvide: ele tem nome e sobrenome. Tem uma vida. Não se impressione com a sua aparência, com as roupas gastas nem com o lugar que ele escolheu para viver e para dormir à noite. Uma marquise pode virar a desejada mansão, o papelão aonde deita pode ser mais macio que um colchão de luxo.
                  
                  Pessoa desprovida de hábitos habitacionais, ou seja, morador de rua, está longe de casa há dez anos, pelo menos. Tempos difíceis, seis anos passados atrás das grades e, de repente, estava solto nas ruas de Santos.

                  O problema é que ele não pode provar que seu nome é Nelson Batista da Silva: ele não tem documento algum. Entre as muitas coisas que aprendeu na escola da vida,  ele sabe bem que, sim, é preciso ter um nome oficialmente registrado e esse nome precisa estar sempre limpo.

                  Outra lição importante: a cidade que tem praias tem tudo! Isso quer dizer que Santos oferece mil coisas para quem não tem nada: comida, roupa, companhia, banho, cabelo cortado, mais comida, agasalho, cobertor, mais comida ainda, solidariedade, cama para se dormir, religião, a palavra de Deus, as tentações do Diabo, amigos e inimigos, um montão de comida, jornal de graça, mulher, muito mais comida ainda...               

                  Ôixe, até trabalho, né não?

                  É por isso, ele diz, que é quase impossível Santos se livrar dos seus moradores de rua, mesmo oferecendo diversos serviços na área da assistência social. Caridade e respeito tem de sobra, apear de muitos direitistas ferrenhos e reacionários crônicos reclamarem dessa gente esquisita que dorme nas ruas...

                  Mas... quer saber mesmo qual é o nome da encrenca: é crack, é pedra! O indivíduo chamado Nelson que não pode provar que se chama Nelson, explica que não falta habitante de rua que recolhe tudo o que ganha da caridade e sobe o morro rapidinho para trocar por pedra...

                  Depois de ser conhecido como “o homem sem freios” - pois usava uma bicicleta que não tinha breque e só parava à base da sola do sapato, o que era extremamente complicado nas ciclovias da vida -, desenvolveu um autêntico “Manual da Sobrevivência nas ruas de Santos”:
ele sabe tudo o que é preciso para sobreviver. Recolhe latas de alumínio, às vezes (quando precisa de uns trocados) toma conta de carros (mas não é flanelinha...), conhece os locais em que se pode tomar um bom banho ou arranjar uma roupa da hora e até mesmo aonde e como conseguir uma bela feijoada.

                  E assim vai vivendo, esperando o dia em que irá, com certeza, conseguir a segunda via da sua certidão de nascimento. Com o papel na mão, irá em busca da carteira de identidade, da carteira de trabalho, do CIC e tudo mais. Porque sabe que sem provar qual o seu nome, não sairá do lugar. Afinal, está com 43 anos e o futuro não espera, mesmo para quem vive nas ruas.

                  E quando puder provar que seu nome é Nelson Batista da Silva, poderá arranjar com a Assistência Social uma passagem para Ribeirão Preto. É que ouviu dizer que lá tem emprego sobrando, que é fácil arranjar um bom dinheiro. Ele diz que Santos é uma beleza e é tudo fácil mas está preocupado com as descobertas de petróleo e gás: “Tem muita gente que virá pra cá por causa do dinheiro fácil, da riqueza. E aí as coisas nunca mais serão como hoje....”.

                  Como nunca antes na história da sua vida, ele agora precisa do seu nome. Que não é nenhum nome feio ou absurdo, mas é seu e é muito precioso.

Estalos:a origem da linguagem e dos nomes

Lane Valiengo
 
         A linguagem nasceu no sudoeste da África e as línguas tiveram uma origem única. É o que afirma o pesquisador Quentin D. Atkinson, biólogo da Universidade de Auckland, Nova Zelândia. Ele analisou os sons de línguas faladas no mundo todo e identificou um antigo sinal sonoro, que seria a origem da moderna linguagem humana.

         A descoberta foi publicada na edição de abril da renomada revista “Science”. Porém, de acordo com o “New York Times”, a questão é bastante controversa entre os linguistas.

         Em todo caso, a descoberta é compatível com as evidências de que os humanos são originários da África, a partir do estudo de crânios fossilizados e de antigas amostras de DNA.

         A existência de um antigo sinal comum entre as linguagens é, no mínimo, surpreendente: de acordo com os linguistas, as palavras mudam com os anos e uma língua não poderia ser rastreada até épocas muito antigas. A árvore genealógica das línguas da família indo-europeias (que inclui por exemplo o inglês e o português) teria no máximo nove mil anos.

         Mas Atkinson defende o que deve ser observado são os fonemas, e não as palavras. Consoantes, vogais e tons são os elementos básicos de qualquer linguagem, ele diz, e existe um padrão semelhante em cerca de 500 idiomas falados no mundo. Atkinson encontrou um fato interessante, para dizer o mínimo: quanto mais longe estiverem da África os lugares aonde são falados, os idiomas usam menos fonemas.

         A verdade é que estima-se que tudo começou com estalos, aqueles ruídos produzidos pela boca, língua, garganta, dentes, lábios, tudo ao mesmo tempo. Sim, um simples estalo...

                  Na África, algumas línguas que usam estalos apresentam mais de cem fonemas diferentes. A língua inglesa tem apenas 45, enquanto o havaiano são somente 13.

                  A linguagem teria surgido há 50 mil anos, quando os humanos se dispersaram da África e começaram a percorrer outra terras. A linguagem seria uma das heranças desse movimento migratório, à medida em que a agricultura se desenvolveu e ocupou novas terras, cada vez mais distante. Existem especialistas que vão mais longe e estimam que a origem ocorreu, aproximadamente, há cem mil anos.

                  De fato, os habitantes do deserto africano de Kalahari pertencem a um dos ramos mais antigos da humanidade e seus dialetos são repletos de sons produzidos por estalos.

                                     E OS NOMES?

       Se as alegações de Atkinson estiverem corretas, os primeiros nomes teriam surgido da mesma forma. E se estiver igualmente certa teoria que diz que o Brasil (e todo o Continente...) fazia parte da África e, num dado momento da evolução, desprendeu-se do território africano, podemos brincar de especular e afirmar que de alguma forma, em tempos ancestrais, participamos dessa alegre e sonora brincadeira.

         Se a linguagem nasceu de fonemas em forma de estalo (ou vice versa...), os nomes teriam nascido com a repetição de determinados estalos característicos. Se houvesse uma máquina do tempo eficiente e uma tradução simultânea, até poderíamos dizer (suscetível de milhares de contestações, é óbvio....), que os primeiros nomes (e as primeiras palavras) teriam surgido a partir das características de cada estalo. Seria mais ou menos assim: aquele-que-estala-mais -forte, aquele -que -estala-fino, aquele-que- não-gosta de-estalar, aquele- que- não -sabe-estalar, aquele-que -estala-timidamente, aquele-que só-estala-estridente,  fulano -que -não -sabe-como-é-bom-estalar, sicrano -que- não- para- de- estalar (cala a boca, pela amor dos deuses ancestrais!!!!!) e etc.

         Ou seja, os nomes teriam surgido a partir de manifestações guturais peculiares, que aproveitavam as características pessoais de cada indivíduo.

         Ou então, quando queria se referir ao seu vizinho de savana, um africano esperto poderia convencionar de “chamá-lo com dois estalos curtos, ou longos, ou três, ou quatro (seria a origem dos sobrenomes?), ou cinco para se referir à família inteira, ou um estalo pavoroso para significar que um leão faminto se aproximava velozmente...

         Eles teriam corrido tão rápido e tão longe que, além de ganhar todas as maratonas da época, quebrando todos os recordes, teriam assim chegado a outras terras, outros locais. Aí, começaram a espalhar seus sons de estalos e todos teriam gostado da novidade e, por fim, surgiu a linguagem e com ela todos os nomes do mundo.

         Difícil era memorizar tudo isso e convencer os outros que o seu “dicionário” era melhor e mais prático.

         Portanto, na hora de escolher o nome do seu filho, capriche no estalo e não engasgue. Pois nada pode ser pior que um estalo desafinado, absurdo e feio!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Saramago, o escritor com nome de planta

Lane Valiengo

       O nome Saramago significa “planta crucífera”. Segundo os dicionários, trata-se de “família de plantas superiores, herbáceas quase todas, com flores racemosas, providas de quatro sépalas e pétalas, e quatro estames, dispostos dois a dois”. Existem cerca de três mil espécies e são comestíveis.

         Saramago é também definido como planta d'água ou Raphanus raphanistrum.

         José de Souza Saramago, escritor português, faleceu em 18 de junho de 2010, aos 87 anos de idade e lucidez. Em termos de importância, na literatura lusitana, seu nome é colocado ao lado de Camões e Fernando Pessoa.

         Entre suas obras, destacam-se Ensaio sobre a Cegueira, Memorial do Convento, O evangelho segundo Jesus Cristo, Jangada de Pedra, O ano da morte de Ricardo Reis e A Viagem do Elefante.

         Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1988. Sua última obra foi Caim, de 2009, uma visão nada ortodoxa do Velho Testamento. É considerado um dos grandes nomes da literatura mundial contemporânea.

         Saramago definia-se como um “comunista libertário”.

Artacho, sinônimo de Arquitetura

Lane Valiengo

     O nome Artacho significaria “Rixa, Desavença” e teria origem italiana. Teria, porque as informações não são muito precisas. Aparece bastante na Espanha, como sobrenome. No Brasil, é sinônimo de criatividade e inovação em Arquitetura, por causa de João Artacho Jurado, um empreiteiro que, mesmo sem diploma, projetou e construiu edifícios que  ainda hoje impressionam pelo arrojo, pelo ecletismo e, algumas vezes, pelo bizarro, pelas formas irregulares e pelos pilotis.
         Paulistano, excêntrico, nascido em 1907 e falecido em 1983, Artacho não tinha formação acadêmica. Aprendeu desenho e perspectiva e tornou-se célebre pela construção de edifícios como o Planalto, o Viaduto, o Louvre, o Cinderela (Rua Maranhão com Sabará), o Saint Honoré, o Duque de Caxias e, principalmente, o Bretagne, na Avenida Higienópolis, em São Paulo, considerada a sua maior obra, combinando diversos estilos, elementos vazados, paredes de vidro e detalhes aparentemente díspares, como os tetos das coberturas, que simulam amebas.
         Em Santos, construiu o Parque Verde Mar, na orla da praia do Boqueirão, obra de extrema inspiração e o Enseada, na Ponta da Praia.
         Professor da Faculdade de Arquietura e Urbanismo de Santos, Ruy Eduardo Debs Franco é o autor de um livro essencial para se entender a obra singular deste audoditada: “Artacho Jurado-Arquitetura Proibida” (Editora Senac).
         Filho de um anarquista espanhol, Ramón Jurado, que trabalhou como condutor de bondes em São Paulo, Artacho é tão criticado quanto exaltado. Existe uma apaixonada comunidade no Orkut, que costuma organizar expedições de visitas às suas obras personalíssimas.

O SURGIMENTO DO NOME PORTUGAL

Lane Valiengo


         Os portugueses são originários do povo galego. O país começou a se formar quando as povoações localizadas ao sul do Rio Minho  tornaram-se independentes do Reino de Leão, que ocupava a Galícia. A cidade que hoje conhecemos como Porto era chamada de Porto Cale desde 200 a.C., mais ou menos (Porto Gal em galego).  Concentrava as entradas e chegadas da nova Galiza independente, após as lutas comandadas por D. Afonso Henriques, que se tornaria o primeiro rei de Portugal.

         Na realidade, foi o Porto que deu nome à nação portuguesa.

         A nova terra libertada tinha como capital a cidade de Minhota de Guimarães, situação que só se modificou com a reconquista de Lisboa, ocupada pelos mouros.

         Os territórios da Galizia libertados ao Sul do Minho são hoje as províncias portuguesas de Minho (capital: Braga), Trás-os-Montes (Bragança), Douro (Porto), Beira Alta (Guarda), Beira Baixa (Castelo Branco) e Beira Litoral (Coimbra).

         A língua falada era o latim vulgar, imposta pelos romanos, e que resultou no galego e, depois, no português. O que significa que ambas têm a mesma origem. Ainda hoje, os galegos lutam pela preservação do idioma, rejeitando o castelhano falado na Espanha. Para eles, por exemplo, Camões na verdade chamava-se Camón.

O NOME DOS MESES - POR QUE JANEIRO TEM ESSE NOME? E DEZEMBRO? E OUTUBRO????? E...

Lane Valiengo   

      Os nomes dos meses do ano, como os conhecemos, têm origem no calendário romano. No início eram somente dez e o ano inciava em março, conforme a sequência elaborada por Rômulo, em 735 A.C. O segundo rei de Roma, Numa Pumpílio, que viveu entre 700 A.C. e 673 A.C., foi quem criou mais dois meses. Tempos depois, alguns nomes foram trocados, para homenagear o Imperador César Augustus e o general Julius César.

         JANEIRO: o nome vem do deus Jano, guardião do universo, deus dos inícios, da primeira hora do dia e do primeiro mês do ano.

         FEVEREIRO: alusão ao festival romano Februália (purificação), quando eram feitos sacrifícios aos mortos.

         MARÇO: homenagem a Marte, deus da guerra. Na época, os sacerdotes promoviam romarias, carregando os escudos sagrados de Marte ao redor de Roma.

         ABRIL: seria uma homenagem a Afrodite, deusa do amor; ou, em outra versão, teria origem na palavra aperire, que se refere à abertura das flores (quando acontece a primavera no hemisfério norte).

         MAIO: referência à deusa Maia, mãe de Mercúrio, deus romano correspondente ao deus grego Hermes. Era o mensageiro de Júpiter, o mais poderoso dos deuses mitológicos.

         JUNHO: referente à deusa Juno, protetora das mulheres e da maternidade.

         JULHO: homenagem a Júlio César. Antes, era chamado de quintilis, por ser o quinto mês.

         AGOSTO: reverência ao Imperador César Augusto.

         SETEMBRO: vem do latim septem (sete), pois era o sétimo mês para Numa Pumpílio.

         OUTUBRO: também do latim, significa octo (oito), pois era o oitavo mês.

         NOVEMBRO: nove, em latim, nono mês.

         DEZEMBRO: vem do latim decem, dez, décimo mês.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Os nomes da orla das praias de Santos

Lane Valiengo

            No início, só havia um nome: a avenida da orla das praias de Santos, São Paulo, era denominada somente Bartolomeu de Gusmão, em toda a sua extensão. A “Praia da Barra”, como era conhecida, serviria para homenagear um dos mais célebres santistas, o “Padre Voador”, percussor da aeronáutica no mundo, o inventor cerebral, o intelectual, nascido na vila do Porto de Santos em 1685.
                  O nome foi oficializado pela lei nº647 de 1921, que só entrou em vigor em janeiro de 1922. Originalmente, trata-se de uma iniciativa datada de 1914 do então vereador João Manuel Alfaia Rodrigues Júnior, que hoje tem seu nome nas placas de uma rua que atravessa o Bairro do Embaré e chega à Aparecida e Ponta da Praia, sem dividir território algum.  O Prefeito era o Sr. Coronel Joaquim Montenegro, que igualmente viraria nome de avenida,  mais tarde.
                  Da mesma forma que foi perseguido pelo Tribunal da Inquisição, Bartolomeu Lourenço de Gusmão também sofreu “ataques”, perdendo terreno e sendo obrigado a dividir a avenida das praias com mais três nomes.
                  O trecho correspondente à Ponta da Praia recebeu o nome de Almirante Saldanha da Gama em 1927, após longa batalha parlamentar. Isso porque havia a iniciativa de dar-se ao trecho a denominação de “Jaú”, em homenagem aos tripulantes do hidroavião que realizou a primeira travessia sem escalas do Atlântico Sul, em 1927. Entre simples porém valentes aviadores e um almirante, ganhou este. Questão de patente e prestígio. Herói da Guerra Cisplatina e da Guerra do Paraguai, Luís Felipe Saldanha da Gama, nascido em Campos, Rio de Janeiro, em 7 de abril de 1846, faleceu em Campo do Osório, Rio Grande do Sul, em junho de 1895. Morreu em combate, durante a Revolução Federalista.
         O vereador Alfaia Rodrigues certamente gostava muito de dar nomes às ruas e avenidas. Foi dele também a ideia de dar ao trecho entre as avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias, o nome do grande poeta Vicente de Carvalho. Batalha injusta: Bartolomeu morrera há séculos. Vicente, uma espécie de ícone da alma e do comportamento santista, um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, ainda mantinha sua lembrança na mente de todos. Quando morreu, em 22 de abril de 1924, provocou comoção intensa. Seu túmulo no Cemitério do Paquetá foi considerado como “Monumento Nacional” e ninguém poderia esquecer que foi ele quem conseguiu que as praias de Santos, diante da ameça de arrendamento, fossem decretadas patrimônio eterno do povo.
         Pelo menos, o Padre Bartolomeu estava em boa companhia.
         O que viria depois é que complicou tudo: decidiu-se que o trecho entre a Avenida Ana Costa e a Divisa com São Vicente passaria a se chamar Presidente Wilson, em homenagem ao estadista americano Woodrow Wilson, figura emblemática das disputas diplomáticas ocorridas logo após a Primeira Guerra Mundial. Logicamente, o Sr. Alfaia Rodrigues e o Prefeito Montenegro estavam presentes ao processo de discussão. Diga-se, a bem da verdade, que a proposta foi do Vereador Heitor de Morais. Inicialmente, ele pretendia dar o nome de Wilson à Avenida Ana Costa, o que no mínimo seria um crime de lesa-memória e de excesso de estrangeirismo.
         Para que se preservasse o nome de Dona Ana, Wilson invadiu mais um trecho da orla, reduzindo os domínios de Bartolomeu. Ah, esses americanos...
         E acabou que, caso notável no mundo da lógica e da praticidade, uma só avenida tem hoje quatro nomes diferentes.
         É muito nome, não é mesmo?
        
(Obs.: sinceros agradecimentos ao grande jornalista e pesquisador santista Olao Rodrigues e as informações contidas no livro “Veja Santos”. Olao também virou nome de rua).

Santos, a cidade que por pouco não foi chamada de Andradina

Lane Valiengo

      Bem que quiseram mudar o nome da cidade em que vivemos. Pretendia-se homenagear o maior entre os santistas, José Bonifácio de Andrada e Silva e, por isso, teríamos o nome de Andradina. Não deu certo e Santos continuou Santos. Foi o que quase aconteceu quando da elevação da vila à categoria de cidade. Mas antes disso, muita coisa aconteceu...
         No início havia uma caravela, oh! que bela caravela!, e dentro dela um certo Américo Vespúcio. Ao passar pela ilha que os índios chamavam de Guaiaó (algo como “local em que se fornecem provisões”), o comandante da expedição decidiu dar-lhe o nome de Ilha de São Vicente, porque era o santo de plantão naquele dia.  Na calmaria dos tempos, acontecia o ano de 1502.
         Nos trinta anos seguintes, a Coroa Portuguesa pouco se interessou em saber o que é que acontecia naquela ilha (e no Brasil...). Como as finanças andavam mal, como agora, Dom João III mandou outra expedição à Ilha de São Vicente, para a demarcação de terras e para ver se era possível tirar algum proveito econômico daquela terra. Para chefiar a nova aventura, nomeou-se o navegador Martin Afonso de Souza.
         Mal sabiam eles que, durante as três décadas de abandono,         um dos degradados aqui abandonado por Vespúcio, de nome Cosme Fernandes (que se tornaria célebre como o Bacharel de Cananéia), havia criado um povoado, dotado de atracadouro, que crescia  a partir dos negócios com os índios e as plantações. Era o “Porto de São Vicente”.  Mas Cosme Fernandes já havia criado outro povoado: Cananéia.
         É por isso que até hoje os dois municípios brigam pelo título de primeira cidade do Brasil.
         Martin Afonso, o interventor oficial, expulsa o Bacharel e assume os seus negócios, logicamente. Livre mercado, é ????
         Pois bem: na parte norte da ilha, o local conhecido como “Enguaguaçu (“enseada grande, enseada maior”)  prestava-se ao plantio de várias culturas e ali se estabeleceram os colonizadores portugueses, que cortavam pau Brasil e plantavam cana de açúcar. Era tanta cana, que não havia outro jeito: construíram um engenho e passaram a fabricar duas preciosidades: açúcar, lógico, e pinga (mais lógico ainda!).
         O Porto de São Vicente foi então destruído duas vezes: um, durante a invasão e saque por Cosme Fernandes (eh, doce vingança...) e um maremoto.
         Com tanta desgraça assim, as “gentes” coloniais foram se fixando cada vez mais em Enguaguaçu, que não parava de crescer. O Porto, então foi mudado de local, por razões de segurança e de praticidade. Passou a ser o “Porto de Santos”.
         Daí em diante, existem versões paralelas e por vezes conflitantes para explicar o nome da cidade, segundo as competentes Yza Fava de Oliveira, Wilma Therezinha Fernandes e Angela Maria Gonçalves Frigério, autoras de “Santos-Um Encontro com a História e a Geografia”. Primeiro, seria uma derivação do Hospital de Todos os Santos (a nossa Santa Casa de Misericórdia), fundado pelo fidalgo lusitano Braz Cubas, em 1543. Segundo, o local teria recebido o nome de Santos por causa de sua semelhança com o Porto de Santos, localizado em Lisboa. E, terceiro, um navegador português a serviço da Coroa de Espanha, João Dias de Solis, teria passado por aqui em 1515, depois de descobrir o Rio do Prata, e batizou o  local de Rio dos Santos Inocentes, porque o dia era um 28 de dezembro.
         Santos Inocentes eram as crianças que Herodes tentou exterminar, na tentativa de matar o Menino Jesus. Com o tempo, acabou a inocência e o Rio passou a ser chamado de “Santos”.
         Uma coisa é certa: Todos os Santos nunca foi um nome de uso popular. É que as pessoas já sabiam das coisas...
         Quanto aos “Inocentes”, também existem controvérsias, sérias controvérsias...

                  *
         Enguaguaçu

         Rio dos Santos Inocentes

         Todos os Santos

         Rio dos Santos

         Porto de Santos

         Vila de Santos

         Cidade de Santos
                  *

Depois de nove meses, pais conseguem registrar o nome da filha: Amora

Lane Valiengo

         Aconteceu na cidade mineira de Patos de Minas, a 390 quilômetros de Belo Horizonte: nove meses após o nascimento da filha, um casal conseguiu autorização da Justiça para registrar a menina com o nome de Amora.
         A demora ocorreu, segundo o jornal Folha de São Paulo, porque o Cartório local negou o registro, considerando que o nome poderia ser vexatório e motivo de piada. Afinal, em tempos de “bullying”, é melhor não facilitar...
         Os pais alegaram que, para eles, Amora é feminino de Amor, além de apresentar sonoridade agradável.
         Em 1ª instância, a sentença determinou a inversão dos sobrenomes (Motta Lopes), o que foi aceito pela família. A Promotoria recorreu. No final de 2010, o Tribunal de Justiça mineiro autorizou o registro e o acórdão afirma que “eventuais constrangimentos decorrem de critérios demasiadamente subjetivos”. 
         O registro só ocorreu em abril de 2011 por razões burocráticas.
         A Lei de Registros Públicos diz que os oficiais de registro civil público “não registrarão prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores”.
         E agora, Amora?
         Só resta esperar os próximos dezoito anos e, se for o caso, requerer a mudança do nome...

O que os pais estão fazendo com os seus filhos?

Luciana Lane Valiengo

O nome é dado num momento de muita emoção, principalmente se for o filho primogênito. E, no calor da emoção, os pais querem homenagear todo mundo, e acabam escolhendo nomes estranhamente absurdos para os pequeninos. “Nomes feios” que eles levarão para a vida toda se não conhecerem a lei que garante a mudança de nome na maioridade (Lei nº 6.015/73 - Artigo 56).

O pior, é que muitos que recebem “nomes bizarros” gostam de tê-los. Não contente em ter um “nome feio”, Gizeveldo Ferreira dos Santos colocou em seu filho também um nome parecido com o seu, Gizeveltto Aislan Alves Ferreira Santos. Gizeveldo deve amar muito nomes estranhos ou, então, não gosta de seu filho, senão porque lhe daria um “nome feio”.

E o que dizer dos nomes dos irmãos da ex-BBB Paulinha? Dsoruelso e Sdaourleos Leite? Até parece pegadinha! Mas não é. O nome dos irmãos é um anagrama inspirado na mistura do nome dos pais, Dores e Saulo. Com tanta inspiração, como a irmã recebeu um nome tão comum? Onde os pais estavam com a cabeça quando escolheram esses nomes para os filhos? O dois portadores dos “nomes feios” ficaram conhecidos nacionalmente durante a última edição do programa Big Brother Brasil, da rede Globo, do qual a irmã Paula participava.

Em conversa com os colegas de confinamento, Paulinha, que estava no paredão, comentou que provavelmente Pedro Bial iria tirar sarro do nome de seus irmãos. Sem entender o comentário, os demais brothers perguntaram o por quê e ela revelou os nomes inusitados dos irmãos. “É o Sdaourleos e outro é o Dsoaruelso”, disse. “Como? Como assim? Soletra”. Foi o que pediram os outros confinados e Paula soletrou. Os colegas não aguentaram e caíram na gargalhada. Em outra ocasião, os brothers tentavam adivinhar como se escrevem e pronunciam os dois nomes incomuns e pediram dicas para Paula. “Como a gente faz?”, indagou um. “Junta o ‘es’ com Nelson”, ajudou outro. Paula corrigiu: "Não é 'Nelson', é 'elos'". Se já é ruim tirarem sarro do seu nome, imagine então isso acontecer em rede nacional...

Se por um lado nós achamos esses nomes absurdos, os donos deles parecem não achar o mesmo. Numa entrevista no Programa do Faustão após sua eliminação, Paulinha disse ao apresentador que os irmãos adoram os nomes.

O que os pais estão fazendo com seus filhos? Esses pais odeiam ou não seus filhos? Eles só podem odiar seus filhos para lhes darem nomes tão absurdos como esses. Se você tem um “nome feio” e vai completar 18 anos, conheça o Instituto Nacional do Nome e saiba como é fácil alterar o seu nome.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

VICENTE DE CARVALHO, UM NOME PARA LEMBRAR

Lane Valiengo

         Falemos de poetas e poemas, pois o mundo precisa do poder das palavras e da sensibilidade.
         Falemos do mar, que conta segredos a quem sabe ouví-lo.
         Vicente sabia.
         Devemos lembrar sempre que o santista Vicente Augusto de Carvalho, nascido em 5 de abril de 1866, foi um verdadeiro mestre dos mestres, mostrando caminhos, iluminando vidas, desenhando o mundo com palavras e atitudes suaves, ensinando aos sentimentos como sentir.
         Recebeu o nome de Vicente, que significa “vencedor”, “aquele que sempre vence”.
         Foi político e foi abolicionista. Foi jornalista e foi advogado. Foi juiz e foi Secretário de Estado. Foi fazendeiro e cultivou palavras. Foi irônico, foi romântico Muitas vezes foi um grande homem, do tamanho da sua alma repleta de grandezas. Outras vezes foi o homem simples, pescando no Mar de Dentro.
         Foi poeta e sua obra ganhou o País. Foi sincero, foi verdadeiro, foi artista. Foi generoso, como devem ser os poetas.
         Foi admirado, foi respeitado, foi cantado. Foi considerado por gente importante como um dos melhores entre os melhores.
         Foi homenageado mas precisaria ser ainda mais louvado e ensinado, em todas as escolas, em todas as ruas, em todas as esquinas e momentos. Para que seus poemas e suas ações sejam exemplo. Para sempre sejam.
         Vicente foi aquele que conseguiu a garantia de que as praias santistas fossem declaradas patrimônio público, para todo o sempre. As praias são de todos os santistas porque Vicente assim lutou e conquistou.
         Por mais de cem anos, sua obra prima Poemas e Canções foi e é motivo de espanto, de descoberta, de admiração. Por tudo isso, devemos relembrar tudo o que foi o Poeta do Mar, para que por muitos centenários mais possamos dizer: aqui nasceu e aqui viveu o maior Poeta Lírico do Brasil, em todos os tempos!
         O grande Menotti Del Picchia um dia confessou:”E como sempre fui dos que o amaram, procurei sempre exaltá-lo, porque Vicente de Carvalho foi, é e será sempre um dos maiores poetas da minha Pátria!”.
         “Só a leve esperança, em toda a vida, disfarça a pena de viver, mais nada”. Foi assim que ensinou Vicente, o Poeta. Aquele que é nome de avenida, de rua, de escola, de bairro, de distrito. Aquele que é nome de poeta. Vicente de Santos, Vicente do Quilombo, Vicente do Jabaquara, Vicente das ondas. Vicente das leis, Vicente das plantações, Vicente das pescarias.
         Vicente do Ambiente, Vicente pioneiro. Vicente dos jornais, Vicente dos Livros. Vicente da Academia.
         Vicente do Mar...

                                               *

                   “Ouves acaso quando entardece
                   Vago murmúrio que vem do mar,
                   Vago murmúrio que mais parece
                   Voz de uma prece
                   Morrendo no ar?”.
        
                                               *

                   “O derradeiro sono eu quero assim dormi-lo:
                   Num largo descampado
                   Tendo em cima o esplendor do vasto céu tranquilo
                   E a primavera ao lado”.

                                               *

QUANTOS SÃO OS NOMES DE DEUS?

Lane Valiengo

         O nome de Deus é magnífico e grandioso “pois expuseste nos céus a Tua majestade”, dizem os escritos bíblicos. Eles falam, é claro, das estrelas, que seriam o maior exemplo da magnitude divina.
         Um clássico da literatura de ficção científica fala que o  Mundo desapareceria quando os monges tibetanos acabassem de descobrir e pronunciar os nove trilhões de nomes de Deus. Para tanto, consumiriam três século para terminar e,  por isso, pedem ajuda a um computador. Eis o conteúdo do conto Os Nove Trilhões de Nomes de Deus, de Arthur Clarke, publicado em 1953.
         Para dizer todos os nomes de Deus, os monges partem de todas as possibilidades de combinações entre os nove caracteres de um alfabeto feito por eles.
         Entre a ficção e a fé, temos o Salmo 8 da Bíblia (“A revelação da glória de Deus”), com Davi invocando o nome Divino usando principalmente Yahweh e Adonay. O primeiro é o termo mais encontrado na Bíblia para se referir a Deus e o segundo significa “Senhor”, “Soberano”.
         As pessoas mais fervorosas argumentam que Deus está em todas as coisas, portanto, Ele está também em cada nome que é pronunciado.
         No conto clássico de Clarke, os especialistas em informática convocados para auxiliar os monges tibetanos duvidam que, quando o computador terminar sua tarefa, o Mundio acabará. Mas, enquanto eles comentam isso, as estrelas do firmamento começam a cair, desaparecer.
         E assim termina o conto...

Nheco é o nome dele

 Lane Valiengo

         O corpo balança no meio da rua, entre os automóveis, as motos, as vans. Carretas e caminhões passam perto, procurando um cais para despejar cargas pesadas. A voz sai forte, chamando os motoristas, avisando que existe uma vaga para estacionar. Uma vaga vale ouro ou, pelo menos, alguns trocados. Ainda mais no Centro de Santos, histórico e  caótico.
        
         Como se o piso de paralelos fosse um universo particular e os trilhos do bonde fossem vias estelares, ele anda por ali parecendo flutuar acima dos pecados da humanidade. Nheco está em seu ambiente, entre buzinadas, freadas e risadas.

         Lá se vão mais de trinta anos trabalhando ali na Praça, orientando motoristas de todas as idades e todos os perfis. Nheco não é um qualquer, um mero flanelinha, não senhor! Ao contrário: nunca exige dinheiro de ninguém, as pessoas dão porque querem e porque são bem tratadas. Quando elas precisam, Nheco sai correndo para comprar uma folha de Estacionamento Regulamentado.
        
         E no meio da rua movimentada, Nheco dá um show...

         Tanto tempo assim, e não falta gente para confiar nele: deixam a chave dos carros na sua mão, às vezes pedem para que ele estacione  e saem apressadas. Nheco é de confiança, dizem todos. Assim como os seus parceiros, o Adilson, que fica pela manhã, e o Carlinhos, que atualmente está trabalhando em São Bernardo, com um parente. Por isso, Nheco anda trabalhando demais.

         Nheco é apelido, é lógico. O nome mesmo é Juraci, mas poucos sabem disso. O tempo passou, a praça mudou, o Centro respirou novos ares e todos viram o jovem Juraci envelhecer. Desde os dez anos que ele frequenta a praça, vivia subindo na estátua dos fundadores do Porto. Aprendeu a dirigir ali mesmo, num Fusca 62. Hoje está cinquentão. Quem diria, hein? Bem, a barba meio grisalha diz, sim.

         O interessante é que ser chamado de Nheco é, para ele, algo totalmente normal. O apelido subjugou o nome. Normal....
        
         Só não vale a pena querer saber de onde veio o apelido. Trata-se, com o perdão da expressão, de uma questão familiar, que envolve uma cama de molas, que fazia barulho...

         Mas isso é uma outra história.

Mais Fernando Pessoa do que se poderia imaginar

Lane Valiengo

        Quem poderia imaginar que existem mais pessoas na vida de Fernando Pessoa do que poderiam sonhar eventuais biógrafos? Muito além dos conhecidos Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, existem na verdade 127 heterônimos, segundo o escritor pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, que está lançando (março de 2011, Editora Record) “Fernando Pessoa – Uma (quase) Biografia”.

        Até agora eram identificados 72 heterônimos oficialmente. Cavalcanti Filho descobriu mais uma autêntica legião de 55 “novas” personas de Pessoa.

        Ao longo da vida, que durou apenas 47 anos, Pessoa escreveu nada menos que 30 mil papéis, que correspondem a 60 livros de 500 páginas. Não é sem razão que escreveu “Viver não é necessário, necessário é criar”.
       
        Com tantos heterônimos assim, Pessoa ainda não chega à soma de Mário de Andrade, autor de “Eu sou trezentos...” (“Eu sou trezentos, sou trezentos e cincoenta/ As sensações renascem de si mesmas sem repouso/ Oh espelhos, oh Pirineus! oh caiçaras!/ Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!”).