Lane Valiengo
Não me joguem na face
Estes nomes assim tão absurdos
Não ofusquem meus olhos
com tamanha vergonha que sinto
quando estes nomes são pronunciados
tão impunemente, como se não houvesse
crime algum.
A vergonha que me assombra teima em refletir
O pouco que somos
E evidencia a nossa falta de consciência
E de compromisso com o futuro
do gênero humano.
Não me obriguem a sentir
Essa tristeza tão grande
Que cala meus pensamentos
E destrói alguns dentre os neurônios
Poucos que me restam.
Tristeza mata.
Decepção também, com mais força.
Não me mostrem os registros oficiais
Recheados de nome que agridem
algum bom senso que ainda possa existir,
Apesar dos pesares.
Não pronunciem mais nenhuma sílaba
De um nome que foi escolhido como troça,
Brincadeira, divertimento
Ou fruto da mistura de outros nomes
Que já são feios por natureza.
E principalmente, não me falem nunca
Dos nomes pornográficos, escatológicos, pútridos e impuros.
Não me avisem que ainda se permite o horror
De impor nomes feios, decrépitos, incultos, infamantes
Pois não se pode mais ser inconsequente, cruel
e ignorante
Depois de tantos anos, tantos séculos,
tantas horas e tanto sofrimento.
Não me revelem que ninguém com um pouquinho
De poder não tenha feito nada até hoje
Permitindo que criminosos do vocábulo
e assassinos de personalidades
continuem escolhendo palavrões
em vez de nomes.
Não deixem que eu saiba que existem
ainda muitos pais que na sua insanidade,
na sua loucura evidente,
escolhem vitupérios em vez de nomes
e impõe aos próprios filhos um sofrimento
que devasta individualidades
e fratura sentimentos.
Por favor, vocês, façam com que eles parem
com esta destruição de almas
de corações, de emoções, de vidas
inteiras.
Não me joguem na fronte a verdade que diz
como somos absolutamente estúpidos.
Na hora de demonstrar amor incondicional
Mostramos todo o veneno que nos corre nas veias
e registramos com ferro e fogo o ódio gravado
nos livros cartoriais.
Se esta demonstração de ausência de afeto é
a única herança que deixaremos,
por favor, acrescentem ao meu nome
o sobrenome “desiludido”, ninguém, nonada.
E me deixem morrer em paz
Sem escutar mais nada.
Enquanto isso,
Não joguem na minha cara
As trevas que revelam os nomes
Que estão na origem
da minha eterna indignação.
Não arranquem de mim a crença
No homem
Na bondade
Na lealdade
Na vida.
E, por favor, me digam se alguém merece
Ser chamado durante todo um a vida de
Atroaja
Enerdira
Cleurijaira
Gedalina.
Pois chega de agressão gratuita.
Não joguem sujo
Com o dito cujo
Que vocês acham que é um nome.
Nem com quem vocês acham
que pode ser vítima eterna
da sua paranóia.
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