segunda-feira, 18 de julho de 2011

UMA TENTATIVA DE POEMA SOBRE OS NOMES FEIOS

Lane Valiengo
       
       Não me joguem na face
       Estes nomes assim tão absurdos
       Não ofusquem meus olhos
       com tamanha vergonha que sinto
       quando estes nomes são pronunciados
       tão impunemente, como se não houvesse
       crime algum.
       A vergonha que me assombra teima em refletir
       O pouco que somos
       E evidencia a nossa falta de consciência
       E de compromisso com o futuro
       do gênero humano.

       Não me obriguem a sentir
       Essa tristeza tão grande

       Que cala meus pensamentos
       E destrói alguns dentre os neurônios
       Poucos que me restam.
       Tristeza mata.
       Decepção também, com mais força.

       Não me mostrem os registros oficiais
       Recheados de nome que agridem
       algum bom senso que ainda possa existir,
       Apesar dos pesares.
       Não pronunciem mais nenhuma sílaba
       De um nome que foi escolhido como troça,
       Brincadeira, divertimento
       Ou fruto da mistura de outros nomes
       Que já são feios por natureza.
       E principalmente, não me falem nunca
       Dos nomes pornográficos, escatológicos,     pútridos e impuros.

       Não me avisem que ainda se permite o horror
       De impor nomes feios, decrépitos, incultos, infamantes
       Pois não se pode mais ser inconsequente, cruel
       e ignorante
       Depois de tantos anos, tantos séculos,
       tantas horas e tanto sofrimento.
       Não me revelem que ninguém com um pouquinho
       De poder não tenha feito nada até hoje
       Permitindo que criminosos do vocábulo 
       e assassinos de personalidades
       continuem escolhendo palavrões
       em vez de nomes.

       Não deixem que eu saiba que existem
       ainda muitos pais que na sua insanidade,
       na sua loucura evidente,
       escolhem vitupérios em vez de nomes
       e impõe aos próprios filhos um sofrimento
       que devasta individualidades
       e fratura sentimentos.
      
       Por favor, vocês, façam com que eles parem
       com esta destruição de almas
       de corações, de emoções, de vidas
       inteiras.
       Não me joguem na fronte a verdade que diz
       como somos absolutamente estúpidos.
       Na hora de demonstrar amor incondicional
       Mostramos todo o veneno que nos corre nas veias
       e registramos com ferro e fogo o ódio gravado
       nos livros cartoriais.

       Se esta demonstração de ausência de afeto é
       a única herança que deixaremos,
       por favor, acrescentem ao meu nome
       o sobrenome “desiludido”, ninguém, nonada.
       E me deixem morrer em paz
       Sem escutar mais nada.

       Enquanto isso,
       Não joguem na minha cara
       As trevas que revelam os nomes
       Que estão na origem
       da minha eterna indignação.   
       Não arranquem de mim a crença
       No homem
       Na bondade
       Na lealdade
       Na vida.

       E, por favor, me digam se alguém merece
       Ser chamado durante todo um a vida de
       Atroaja
       Enerdira
       Cleurijaira
       Gedalina.
       Pois chega de agressão gratuita.
       Não joguem sujo
       Com o dito cujo
       Que vocês acham que é um nome.

       Nem com quem vocês acham
       que pode ser vítima eterna
       da sua paranóia.

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