segunda-feira, 18 de abril de 2011

Os nomes do Brasil

Lane Valiengo

         Muito antes de aqui chegarem os conquistadores portugueses e espanhóis, além dos corsários, dos espertalhões e dos flanelinhas, o que hoje conhecemos por Brasil era chamado candidamente de “Pindorama”. Trata-se de uma expressão tupi-guarani (pindó rama ou pindó retama) que significa “terra/lugar/região das palmeiras”. Esse nome pré-cabralino revela a simplicidade da vida dos índios e sua visão de mundo, logicamente. Um lugar generosamente ocupado por imensas árvores, só podia mesmo ter um nome que fizesse alguma referência a tanto verde. Além do mais, em se plantando, tudo dava, tudo nascia e florescia, na visão do escriba lusitano.
        
Logo em seguida começaram os desmatamentos e as queimadas.

         O curioso é saber a razão de, havendo tantas espécies majestosas, os índios escolherem logo a palmeira como símbolo. Lembrem-se: palmeira não dá sombra, não dá frutos e não é das mais virtuosas inimigas das emissões de carbono. Convenhamos: os índios deveriam lá ter suas razões. Talvez já conhecessem os versos fatais, “minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá....”.

         Foi então que chegaram os europeus e trataram de impor o nome de Ilha de Vera Cruz. Típico comportamento de quem pensa primeiro em acumular posses e bens. “Isso aqui é meu eu chamo como quiser...”. Como se sabe muito bem, o capitalismo colonial era regido pela força da ganância desmedida. Terra boa era terra que tinha ouro e prata. Por causa desses metais, os incas foram dizimados e muita gente boa acabou morrendo antes de ver Pelé tabelando com Coutinho.

         Mais ainda: ao chamar aquela terra de “ilha”, estavam apenas comprovando a sua (sua deles, os exploradores) falta de visão e preguiça mental. Quem é que chama de ilha um continente desses? Se ao menos existisse na época o Google maps... E por que não deram uma olhadinha além das serras, além da Bahia, meu rei, para avaliar o tamanho da encrenca?

         Quanto ao “Vera Cruz”, traduz o predomínio do pensamento religioso, a força da Igreja, logicamente, mas também uma espécie de defesa mental: ao invocar a religião, sentiam-se eles protegidos espiritualmente quanto a ameaças que a terra desconhecida poderia apresentar. Tipo a tabela do Imposto de Renda ou a idade mínima para aposentadoria. Na verdade, chegaram chegando e mandando em tudo. Subjugar e explorar eram os pecados dos quais pediam absolvição antecipada, em nome de El Rei e de Deus!

         Pois, aconteceu então o “achamento” (termos usado na época) do Brasil. O achatamento do Brasil viria depois, por meio de expedientes bem mais refinados, porém não menos perniciosos. Usura é usura em qualquer parte, só mudam os tipos de banqueiros e os nomes dos golpistas...

         Pergunta inocente: o Porto era Seguro mesmo ou esqueceram de contratar vigilância particular? Ou será que deram aquele nome ao tal porto só de medo de seguir em frente? Calmaria, é....

         Quando as naus foram percorrendo a costa, a partir do Nordeste e do Monte Pascoal, chegaram à conclusão que aqui ali era só um pedaço do Brasil, ôô, e que de ilha não tinha nada. Quem bom, devem ter pensado, dá até para fazer latifúndios decentes.... (existe latifúndio decente?). E o que era ilha (nenhum homem é uma ilha, logo alguém decretou...), virou “Terra de Santa Cruz”, com um aviso em cima: “Não entre, propriedade particular”.
        
         A necessidade de colocar um nome qualquer era uma clara tática de guerra comercial: nomeando a “terra chã”, garantiam-se os direitos de propriedade (não se pensava ainda em reforma agrária...) e afastava-se a concorrência, no caso os espanhóis e, ainda asseguravam-se futuras navegações e divagações, milhagens de bônus garantidas. Só faltou colocarem uma placa de trânsito, avisando:”Aqui, em breve, talvez um país...”.

         Logo abaixo, uma plaqueta: “Precisam-se cartógrafos. Paga-se salário mínimo”.

         Como Vera Cruz seria um interessante ponto de passagem a caminho das Ilhas Molucas, na Oceania, e  das Índias Orientais (especiarias, incenso e mirra, ôba!), um tucano pousado numa árvore próxima logo sugeriu um pedágio.

         Os nomes foram se sucedendo, provavelmente porque o departamento de marketing não os achava nem um pouco comerciais. Terra Nova, Terra dos Papagaios (êpa! chama o Ibama!), Terra de Santa Cruz e Terra do Brasil, entre outros menos votados.

         A verdade é que os sábios econômicos (nos dois sentidos) da Corte Portuguesa não estavam muito animados, porque ainda não haviam notícias sobre os metais preciosos e as ações da Petrobrás ainda não estavam disparando. Assim, o Brasil ficou durante um bom tempo sem merecer maiores atenções, só recebendo aqueles contingentes de condenados por pequenos furtos. Mal sabiam eles que esta prática se tornaria um dos esportes prediletos de grande parte da futura população brasileira. Como sê vê, tudo é uma questão de DNA...

         Como sempre acontece, e assim caminha a humanidade até hoje, descobriu-se que a tal árvore chamada pau-brasil servia para tingimentos e logo pensaram em uma atividade econômica em larga escala, além do açúcar, do sal e dos precoces craques de futebol. A exportação só não foi maior por causa das barreiras protecionistas de alguns países enciumados. Mas de tanto levar pau, começaram a falar só Brasil. Mais uma vez, o mundo se curvou a uma necessidade econômica. E o Brasil mostrou a sua cara, enquanto os índios saíram dançando e cantando “quero ver quem paga pra gente ficar assim, Brasil! Qual é o teu negócio, o nome do teu sócio....”.

         Extraoficialmente, tentaram grudar aqui o nome de país do futuro. Sempre do futuro, nada de presente. Quase colou...

OS NOMES QUE O BRASIL RECEBEU
*PINDORAMA

*ILHA DE VERA CRUZ

*TERRA DE SANTA CRUZ

*TERRA DO BRASIL

*BRASIL

*REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

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