terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

GENY E O ZEPPELIN I


Paulo Matos

De tudo que nego torto / Do mangue e do cais do porto / Ela já foi namorada / O seu corpo é dos errantes / Dos cegos, dos retirantes / É de quem não tem mais nada... É a canção da Geny, composta e cantada pelo genial Chico Buarque de Holanda, que pelo seu sucesso arruinou de vez todas as mulheres com este nome.
O conto de Guy de Maupassant (1880), que inspirou a música de Chico Buarque, criada para o musical “Ópera do Malandro”, de 1978, baseado na “Ópera dos Mendigos” (1728), de John Gay, e na “Ópera dos Três Vinténs”, de Bertolt Brecht e Kurt Weill. Ele tem início com um relato fiel acerca das conseqüências da invasão prussiana na Normandia. Trata-se de um verdadeiro documento histórico e psicológico. O pessoal sabe o que é um Zeppelin, um enorme balão que, antigamente, voava como os aviões, para fins civis e militares.
Guy não poupa críticas ao cinismo e à hipocrisia que conduziam o comportamento da sociedade francesa, em meados do século XIX que, consta, é real. O personagem, que era um travesti, teria existido de fato. (http://ozeroeoinfinito.blogspot.com/2008/08/geni-e-aupassant.html).
O russo Lev Nikoláievich Tolstoi é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, e possivelmente o maior nome da narrativa realista. Suas obras mais conhecidas são Guerra e Paz, uma lição de otimismo que descreve a invasão de Napoleão na Rússia de 1812, e Anna Karenina, onde retrata e critica a sociedade hipócrita da época czarista. E é disso que falaremos: hipocrisia.
O conto Bola de Sebo (Bole De Suif), do autor francês Guy de Maupassant, inspirou Chico Buarque a compor Geni e o Zeppelin, uma canção que retrata claramente como os interesses momentâneos afetam as atitudes das pessoas. (http://www.factivel.com.br/blog/deuteronomio/).
Na versão brasileira de Chico Buarque, um invasor chega num Zeppelin e promete destruir a cidade, a menos que a Geni, um travesti que sempre foi criticado e apedrejado, passe a noite em sua companhia. A população, temendo a aniquilação, sai em passeata e sinceramente pede:
Vai com ele, vai Geni / Vai com ele, vai Geni/ você pode nos salvar / Você vai nos redimir / Você dá pra qualquer um / bendita Geni
Elas passaram a representar esta que por ser “caridosa” com os homens acaba sendo uma solução para um problema da coletividade, mas depois cai novamente em desgraça – e não poderia ser diferente. Seu destino era o das outras “Genys”, de ser ridicularizada à exaustão e despertar a ira coletiva sempre tão sedenta de fatos. Só restava às Genys mudar de nome.
Dá-se assim desde menina / Na garagem, na cantina / Atrás do tanque, no mato / É a rainha dos detentos / Das loucas, dos lazarentos / Dos moleques do internato / E também vai Amiúde / Com os velhinhos sem saúde / E as viúvas sem porvir
Em http:www.revistabula.com/posts/arquivo/escatologia-humana, lemos:
Para conhecer a fundo o caráter da humanidade, na essência de sua índole, não carece nenhum Freud ou qualquer outra sonda psíquica: basta ler o conto Bola de Sebo – a obra-prima sobre o caráter humano, de Guy de Maupassant. Está tudo ali, numa síntese. O relato fiel. O nítido retrato, sem retoques, da humanidade. Bola de Sebo era como chamavam, numa certa cidade francesa bombardeada e dominada, a prostituta Elisabeth Rousset, que se negou a servir carnalmente, mas se viu forçada a sujeitar-se aos desejos do oficial prussiano, ali de passagem com os seus soldados.

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