segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

RAIMUNDA, SEM JEITO E SEM LUGAR

Paulo Matos

Não estranhe, mas “Raimunda” foi e é um nome bonito e sonoro para muita gente. Mas na sociedade urbana europeizada do sudeste não é. Fica ridículo. Agora imagine as dores desta Raimunda Marli. Marli foi o pai que acrescentou, prá melhorar, sentiu. Em capítulos:

I - O NOME
A mãe fez uma promessa para São Raimundo quando sentia as dores do parto. E ela pagou a promessa, esta a grande verdade. A sobrecarga se alongou além da vida da mãe e se transferiu para outra pessoa (a filha). Isto é proibido pelo Direito. Por acaso ela conheceu o Advogado Gerson Martins, que lhe mudaria a vida.

II - O TORMENTO
Por boa parte de sua existência nossa Raimunda carregou heróica e penosamente o nome. Pedia chamarem-na Marli, seu segundo nome. Vontade de crescer, fazer cursos, desenvolver-se eram próprias de nossa personagem esmagada pelo nome.  Era gozação em cada esquina. O pai teve que brigar para mantê-la na escola no colegial. E foi só.

III - A MUDANÇA
Um dia despertou. Procurou o Dr. Gerson Martins e mudou o nome. E sua vida. Já tinham passados seus melhores anos, que não voltariam, mas enfim... Cursou Direito e separada judicialmente, nunca mais tivera ninguém - o que se modificaria depois da alteração. “Foi uma mágica”, disse.  Antes, até o médico ela evitava: e na hora da chamada?

IV - OMISSÃO DO NOME
Seu pré-nome por vezes sempre que possível era omitido. A própria família compreendia e respeitava a omissão, pois logo ficou clara a situação vexatória. Podia se falar tudo, até se usar o termo jurídico de que a questão era “despicienda”, sem importância, gratuita, preconceituosa contra nordestinos, enfim.  Difícil mesmo era carregar o nome, ah, este heroísmo ninguém queria... Ela era “Rai”, só.

V -TRAUMA
Hoje, após a mudança, não fala mais do assunto. Na época em que entrou com a ação, não discutiu a questão nem com o filho. Perguntada sobre se concederia entrevistas à TV sobre o tema, consciente de que ninguém teria a dimensão que a alteração teve para ela dizia que “nem morta!”, como aquele personagem televisivo.

VI - FUTURO
E se não tivesse mudado o nome, como seria? “Eu não teria estudado, o que teria feito desde cedo com significativos resultados na minha vida. Seria outra pessoa. Vendeu seu apartamento antigo, pois estava com “aquele” nome.
Marli rasga as correspondências que tragam a nefasta lembrança, não gosta de falar do assunto, não tem mais documentos com o nome de má memória. Para quem não atravessou a situação, se sugere fantasioso este relato, só para estes.

VII – MUDANÇA DE NOME
A mudança de nome pode parecer requinte, instrumento de classe, sofisticação, esnobismo. Mas não é. Deveria ter reconhecimento legal. Já há jurisprudência, reconhecimento jurisprudencial da situação de fato, os vexames que atravessa o portador do “palavrão”. Dado com carinho no berço, sim, antes, ao final da gestação que é o maior fato da história pessoal. Mas sem critérios, para que os dados oferecidos são insuficientes, ou sem se avaliar os resultados se bons ou maus.
Existem coisas que foram bem feitas, mas sem análise histórica, que se configuram de imensa gravidade anos depois. Dar  nome é uma delas. São uma série de fatos, impossíveis de ser analisados até por computador.  São desenhos de novas conjunturas sociais. Sobre eles prescindem, não se exigem, conhecimentos por parte da maioria das formações profissionais. Só para os responsáveis por este ajustamento, por esta situação.

VIII – CONCLUSÃO: PARA DIZER O MENOS
O que fazer? Mudar o nome. É a solução “cirúrgica”. E nada melhor do que a atuação do “cirurgião dos nomes”, o advogado Gerson Martins. Decerto que esta ciência não se aprende só na escola, existe vivência – para quem é daqui, até na Bacia do Mercado e do Macuco, para dizer o menos.
É como dizia um amigo nas cadeiras da Faculdade de Direito, apelidado por mim de “Sábio”. Sabia tudo. E decerto arrazoaria favoravelmente a estas demandas. Acabará juiz o colega de cadeira de nome feio, que deve lhe causar problemas. Não é nome de juiz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário