terça-feira, 29 de março de 2011

Como nasceram os nomes?

Lane Valiengo

(Ou: Pequena História Universal dos Nomes e das Palavras em Ritmo de Farsa e Salsa).

No princípio era o verbo. Depois vieram as sentenças e a necessidade criou os nomes. E assim caminha a humanidade, se esgueirando pelas veredas.

Lá bem distante na linha do tempo, as pessoas começaram a pensar como fariam para distinguir os vários indivíduos da comunidade (ou agrupamentos). E foi aí que começaram a ser usados os nomes, a partir de alguma característica da pessoa nomeada. Era o Coxo, o Manco, o narigudo, o Gordo, o Falador, o Mudo, o Triste, o Orelhudo, o Magrelo... Pronto! Identificados estavam todos. E os povos souberam que era preciso distribuir nomes. A ninguém mais seria dado o direito de ser anônimo ou  ser filho das sombras.
                                              
Quando o número de pessoas era grande demais e o prenome simples (nome próprio) começou a se repetir, alguém pensou com certeza: “Isso vai dar confusão....”. Antes que algum burocrata inventasse a carteira de identidade (que deveria ter outro nome!), criaram-se os patronímicos, ou melhor, os nomes de família.
                           
A História oficial não registra, mas certamente existiram os nomeadores profissionais, sujeitos muito observadores e cujos neurônios já haviam aprendido a fazer correlações. Assim é que começaram a relacionar o nome com a atividade ou alguma peculariedade. O João que tinha uma plantação de oliva (azeitona) virou João Oliveira. O Joaquim que morava lá em cima daquele morro, virou o Joaquim Serra. O Valdir que nasceu “fortinho” e forte cresceu, virou o Valdir Fortes.

“Ah, sabe aquele um que sabe trabalhar com o ferro sem ser ferido? Pois é, vamos chamá-lo de “Smith”...Quando descobrirem o Brasil, a gente põe o nome dele de Ferreira. Aquele que sabe fazer coisas com o ferro. Combinado?”

E assim continuou a brincadeira: Lago, Ruas,  Laranjeira, Figueiredo, Castelo, Moreno, Branco, Vale, Rosa, Ribeiro, Amoreira, Carvalho, e etc, muito etc... Bastava verificar o que as pessoas faziam ou qual era a sua aparência, ou de onde vieram, ou naquilo em que acreditavam. Ocupação, localidade, características pessoais e família.

Os bandos e os clãs viraram famílias (núcleos familiares, mais precisamente) e aí estava tudo resolvido: era só misturar os patronímicos, pegando o da mãe e juntando com o do pai.  

Dizem as más e também as boas línguas que os sobrenomes foram usados em primeiro lugar pelos chineses, quase três mil anos Antes de Cristo.
                           
Ali pelo Século X, os venezianos por sua vez sofreram um grave ataque de esnobismo e passaram a achar que um nome só não bastava. Para distinguir  a elite da plebe ignara carregadora -de -sacos -de farinha -sem-dinheiro-no-bolso-nem-título-de-conde, passaram a andar com mil lenços e documentos e com um brilhante nome adicional. O sobrenome passou a ser sinal de sucesso nos negócios e nas altas rodas sociais. Afinal, eram mercadores de estilo, pompa e circunstância.

Como Veneza era um importante porto, bem no meio do caminho entre Oriente e Ocidente, os navegantes receberam o aviso e espalharam a novidade por todo o mundo: chique mesmo era ter um segundo nome!

Conta-se ou sussurra-se que a hereditariedade veio pouco depois, pois tinha filho querendo ficar com os cobres do pai e também com o nome, só para provar que filho de peixe, tubarão pode ficar.

Mas vamos falar sério: como é que surgiram as palavras?

Foi geração espontânea? Todas palavras já existiam num universo paralelo?

Foram os primeiros linguistas astronautas?
                           
Foi uma dádiva divina?

Os grunhidos ganharam cor, forma e significado e logo em seguida alguém dantesco escreveu a “Divina Comédia” e um balzaquiano inventou a “Comédia Humana”? (Hum... não é comédia demais?)

Todas as palavras sempre tiveram vida própria e estavam flutuando no ar, só esperando quem as agarrasse e prendesse numa gaiola vernacular?

Inventaram o twitter mas ninguém sabia para que servia? (Ah, deleta logo essa coisa...).

Alguém escreveu uma cartilha esculpida nas rochas e em seguida pensou”ah, isso não serve para nada mesmo...”?

O ENEN já estava marcado e deram um jeito de vazar a origem das palavras?

Ou será que cansaram de ficar olhando um para o outro sem ter nada a dizer? (Diabo, precisamos inventar uma forma de ficar reclamando e jogando a culpa de tudo nos outros....).

Bem, é grande a tentação de dizer que o mundo estava só esperando Shakeaspeare nascer para dar uma alma a cada palavra e fazer poesia de cada vocábulo (se bem que isso não deixa de ter alguma pontinha de verdade...).

Mas será que os políticos estavam loucos para discursar mas não sabiam como?

Era preciso finalmente dar nome aos bois?

Santo Agostinho, o grande filósofo religioso da Idade Média, vivia se perguntando de onde vieram as palavras. Como é possível alguém nunca ter visto o objeto a que elas se referem, mas mesmo assim saber do que se trata. O santo filósofo considerava que as palavras foram obras de Deus e já existiam dentro de nós, faziam parte da nossa alma para todo o sempre.

Seria então um caso de herança genética ou puro instinto?

Quem sabe explicar?

E como saber que uma xícara corresponde mesmo à palavra xícara? Estariam os modelos universais numa caverna, realmente?

Ecologistas de todos os tempos defendem a idéia de que tudo começou com os sons da natureza. Foi imitando o som do vento, da chuva, o canto dos pássaros e o rugir dos leões que o homem dominou os fonemas e criou as palavras, por aproximação, aglutinação e, quem sabe, deglutição. Perceberam os homens que assim poderiam organizar o caos reinante e criar as línguas. Afinal, sempre haveriam os Platões e os Sócrates para dar algum significado às coisas, mesmo  usando uma filosofia que só falava grego.

Mas isso tudo é lenda.

Na verdade, os espertos (os espertalhões existem desde muito antes das palavras...) descobriram que, ao dar nome às coisas, o ser humano se apropria delas.

Pronto: tudo não passou de uma apropriação material e capitalista! Um jogo rasteiro de acumulação de poder!

A Etimologia (do grego “ethymon”, que significa verdade) considera que as palavras que usamos comportam-se como seres vivos, provindas de uma Teoria da Evolução. Nascem, se desenvolvem, chegam ao seu apogeu, podem mudar de significado e muitas vezes morrem no abandono, sem ninguém para acompanhar o cortejo fúnebre.

O que resulta em mais perguntas que respostas e num conselho útil e fútil: pense bem sobre aquilo que sai da sua garganta! A vítima pode ser você...
                           
Falando em vítimas, devemos lembrar que uma das armas mais poderosas das guerras sempre foi e será a contra-informação. Funciona assim: quem domina o povo inimigo impõe a sua língua. Mas quem não consegue pronunciar direito acaba mastigando tudo e surgem novas formas, novos dialetos. Sim as guerras  tiveram papel (ou papiro...) importante na difusão das palavras e das línguas.       

Grande coisa, não é mesmo?  Principalmente numa época em que fala-se um a coisa e entende-se outra complemente diferente (qualquer semelhança com o discurso do poder é mera crueldade...).

Estudos recentíssimos realizados por elementos que enxergam teorias da conspiração em todos os acontecimentos juram que ninguém entende a verdade verdadeira: forma as palavras que inventaram a raça humana (a desumana também) e são os nomes que nos dominam!

E basta!

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