terça-feira, 1 de março de 2011

O NOME ÚNICO E A LIBERDADE DO NOME

Paulo Matos

A importância do designativo pessoal – o nome – diante da confusão estabelecida com as coincidências de nomenclatura levou o governo a adotar providências enérgicas. Em médio prazo – sim, não seria nem curto nem longo – todas as pessoas teriam nome diferente, pois haveria um quadro nacional com todos os nomes disponíveis e na hora do registro seria feita a escolha.
Não adiantava escolher o nome dos apóstolos, que se esgotariam logo, aliás, já estavam esgotados nesta época da adoção do quadro único de nomes. As identidades estavam pré-definidas, o que parecia um tanto autoritário, pois impedia os seres de ter sua autonomia na escolha do próprio nome. Existiram revoltas, mas com ações repressivas imediatas tudo logo voltou ao normal.
As razões expostas pelos dirigentes que lograram vencer com a tese do nome único foram curtas e objetivas – não havia muito que dizer -, das vantagens deste novo enquadramento que logo não permitiria que muitos tivessem seu nome predileto aplicado aos seus filhos.
Não havia muito de que se queixar, pois as pessoas já não escolhiam mesmo seus nomes, que o eram definidos pelos pais e que apenas o suportavam em silêncio por toda sua existência, agradasse-lhes ou não. Indubitavelmente este era um argumento poderoso: se já não o escolhiam, o estado disciplinaria a questão para evitar coincidências e evitar confusões documentais.
Sempre haveria oposição, como há para tudo, mas para isso existe a coerção do estado extinguindo-a, simplesmente. A uniformidade assombraria as nações em redor e logo todos adotariam a norma. Os sobrenomes? Esta era uma reivindicação, em nome das tradições familiares, heranças, coisas tais e afins.
A idéia primeira era eliminá-los, mas foi dado um prazo para que desaparecessem. Existiram até dirigentes que consideravam que as pessoas deveriam ter números e não nomes. Assim contabilizava-se a população diariamente, o que pareceu fantástico para alguns. Mas a idéia não foi totalmente aniquilada e permaneceu nos setores mais “duros” daquele grupo que ocupara o poder.
O sentimento de opressão sentido pelo povo era patente, que sentia sua redução a objeto de produção do sistema. O terror vicejava, o medo campeava e os soldados nas ruas apavoravam.  Qualquer semelhança com 1984 do escritor George Orwell não era mera coincidência.
Despertar deste pesadelo foi uma das melhores coisas que aconteceram, com a consciência plena de poder ter o nome que quero – até mesmo independente daquele que recebi ao nascer. Essa liberdade não iam me tirar.

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