sexta-feira, 27 de maio de 2011

ELA MUDOU DE NOME - A TRIBUNA, ANO 117

Paulo Matos

Na cidade e a região ganharam há um século e dezessete anos, em 26 de março de 1894, um impulso ao seu crescimento e desenvolvimento na força da informação. Era A Tribuna, jornal que se consolidou e que veio em função desses mesmos ingredientes, que iniciavam seus efeitos.

Era a Santos, um dos primeiros núcleos civilizatórios do país na comunidade do Bacharel, desde 30 anos antes de Martim Afonso e Bráz Cubas.  E que se tornou Vila no Dia de Todos os Santos. Pois até A Tribuna mudou de nome: era, ao surgir, “A Tribuna do Povo”, um dos maiores jornais do país.

Há 117 anos, a cidade de Santos ganhava um jornal. Trazido por um maranhense disposto a revirar a terra com suas convicções políticas.  A edição de 19 de dezembro de 1899, quando A Tribuna do Povo foi retomada por Olímpio (agora como A Tribuna), foi editada com seis mil exemplares, vendidos em meia hora. E repetida no dia 20, vendida até no câmbio negro por até 20 vezes seu preço original de cem réis. Era, segundo escreveu Olímpio no editorial, a “continuação espiritual” da “sua” Tribuna do Povo. Justifica-se, pois!

Outro nordestino, este de Aracati, no Ceará, continuaria a história, chegado depois de Olympio Lima, que não era outro senão Manoel Nascimento Júnior. Desde 1867, a cidade construíra o maior tronco ferroviário do país, a São Paulo Railway, obra do visionário Irineu Evangelista de Souza, o barão depois visconde de Mauá. Que trazia todo o café do interior para ser exportado por aqui.

Santos havia se tornado o maior porto exportador de café do mundo, com mil navios em 1893, recordes de carga idas e vindas. Santos tinha a primeira Santa Casa do Brasil, fundada em 1546 e a Estrada da Maioridade desde 1844, como caminho para São Paulo Capital. E era município desde 1839. O Código Sanitário do Estado chegou a dois de março de 1894, estabelecendo parâmetros para as avenidas e ruas, as primeiras com 25 metros a as segundas com 16. Santos iria crescer e com ela o seu jornal. Por vezes, sua coragem a fez reprimida.

Dez anos antes Santos tivera um evento de mobilização popular que a credenciara como cidade altiva e revolucionária no dizer dos escritores. Como professor e escritor Júlio Ribeiro, no seu romance “A Carne” fala da Santos de 1887. E da natureza de seu porto como causa para encampar as causas mais avançadas, “... o único povo que julgo capaz de uma revolução”, escreve. Foi esse povo que fez a primeira Constituição Municipal do País, aliás, a unica, revogada em 1894.

Era a lembrança de uma revolta local na questão da água em que a população irrompeu pelas ruas - a “A Revolta dos Lampiões” contra os serviços de água e luz, em dezembro de 1884. Vinte anos antes de 1894, tivera a primeira epidemia de febre amarela, há quatro consagrara sua ideologia Abolicionista nacionalmente, “Território Livre” que fôra dos escravos no país, republicana radical que seria sindicalista por excelência.

A Santos de 1894, que teve seus primeiros 200 metros do cais - que seria o maior do hemisfério - inaugurados em fevereiro de 1892, 1.866 no ano seguinte, iria assistir esse Olímpio Lima, chamado pelo historiador vital Francisco Martins dos Santos de... ”o maior jornalista que já passou por aqui”, que explodiria em número de leitores na sua aguardada volta em 19 de dezembro de 1899, depois de tenazmente combatido pelo atraso.

Nesse ano, a cidade fazia crescer sua organização social e ganhava sua Constituição Municipal, pretensiosamente ousada e autônoma como exemplo para os municípios brasileiros, mas enquadrada dentro da Lei maior republicana da Federação e do Estado. A economia e o desenvolvimento faziam jus a esta perspectiva – notadamente pelo desenvolvimento acelerado de seu porto.

Ainda na curta vigência da Constituição Municipal, de 15 novembro de 1894 a 15 de junho de 1895, (de 15 a 15), foram eleitos pela primeira vez pelo povo, a 1º de dezembro de 1894, os primeiros vereadores da cidade, o primeiro prefeito do Brasil. Criamos o cargo, que não será mais do intendente escolhido entre os vereadores eleitos, Manoel Maria Tourinho – como permitia a Lei. Era a Autonomia Municipal proclamada para o País, na pena gloriosa de Vicente de Carvalho, poeta e estadista que lutou pela obra dos canais redentores e pela preservação das praias de Santos.

O algoz da Constituição Municipal não seria outro senão aquele que, pouco democraticamente, contestou Olímpio Lima e sua Tribuna do Povo a tiros, pelas críticas que este fazia ao seu irmão, o delegado Isidoro de Campos – que o mandou prender diante de uma queixa de diversos vultos da cidade: o major José Emílio Ribeiro de Campos, advogado e diretor do jornal Diário de Santos.

José Emílio, o “Poscampini”, que também contestou a Constituição Municipal santista e progressista de 1894, apresentando recurso à Assembléia estadual - afinal deferido, por sua revogação. Foi a derrota santista e dos municípios do país que nunca mais souberam o que era Autonomia, apesar de serem os únicos territórios reais, usurpados de seu poder. Ela dava direito de voto às mulheres e criava a revogação de mandatos pelo povo, o que se busca até hoje 115 anos depois.

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