terça-feira, 17 de maio de 2011

PAULO, O APÓSTOLO DO SAMBA

 Paulo Matos

Houve uma vez em que, nessa cidade de Santos, um padre católico cumpria por muitos anos uma tarefa histórica: a de alterar e fazer crescer destinos trazendo o brilho à periferia. Ele não precisará nunca mudar de nome, pois o consagrou. Chamava para uma Escola de Samba, fazendo-a campeã da maior festa do mundo que é o carnaval brasileiro, com brilho e lantejoulas, muito som na bateria. Horizontal, com todas as tribos em grande confraternização e entusiasmo coletivo.

Era a ocupação saudável do tempo e da história, construindo memória e graça tanto nos batuques quanto nas danças trabalhadas com esmero em cansativos ensaios. Em maio de 1954 o Padre Paulo Horneaux de Moura Filho, recém ordenado sacerdote, foi indicado pelo Bispo Dom Idílio José Soares para iniciar "um trabalho de nucleação nas Casas Populares da Bacia do Macuco".

Padre Paulo começou a reunir o povo e celebrar a Santa Missa na Praça do Mercado, que servia para abastecer, inicialmente, os construtores do conjunto residencial e, mais tarde, os primeiros moradores. Antes de se construir o templo, havia no local uma quadra de esportes. Foi este o primeiro lugar das celebrações.

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Paulo é uma escola de samba de Santos. A Padre Paulo foi fundada em 27 de agosto de 1974, no Bairro Estuário, e hoje tem sede na Praça Rubens Ferreira Martins. Suas cores são o verde, branco e com detalhes dourados na bandeira. O apóstolo Paulo nunca ousou nem usou destas cores, mas seu estilo naquele conjunto que acompanhava

Isto ocorreu em Santos – e ainda ocorre -, mas o simpático personagem não pôde mais desfilar a frente de suas meninas e meninos pela avenida, porque os titulares da Igreja consideraram imoral as garotas quase despidas que percorriam o asfalto sorrindo e dançando.

Era um feito memorável, que só deixava de ser alegre quando chegava ao final da pista depois de memoráveis cantorias de seu samba-enredo nas arquibancadas, traduzindo o calor e a emoção diante do espetáculo construído, produto do esforço comum, de inimaginável beleza - trazendo arrepios à pele.

Mas proibiram que seu líder e criador saísse à frente da escola, dando exemplos de geração de empregos e atividade econômica, de construção da beleza nas cores verde e branco. Que fez a Escola campeã em 1980, 1982, 1984, 1991, 1997, 2000, 2006 e 2010. Que em 2010 cantava “Paira no ar minha águia guerreira, mostra o teu povo a grande ópera do carnaval”. São tantas... Emoções!

Padre Paulo não mudou e nem pode mudar de nome, referencial de vontade que é de toda uma comunidade, que defende e fez crescer no espírito do carnaval. E este é a dos debaixo imitando os de cima, copiando nas vestes reis, princesas e nobres – o primeiro passo para sua derrubada, primeiro a ironia. Ele faz isso com perfeição, na organização das danças, das fantasias.

Seu nome é uma instituição, que só ele não pode mudar. Mas há aqueles que querem se tornar instituições, fazer um “fake”, como se diz na Internet denominando um perfil falso, que é possível construir. A estes aconselhamos a construção da personalidade desejada, que não é senão a própria personalidade livre das opressões e medos. Para iniciá-la, um nome para o seu perfil. Nós – o Instituto Nacional do Nome - facilitamos esta tarefa. Não haverá um amanhã igual.

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